sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Debate religioso em um almoço de 20 minutos

Como já disse que não sou especialista em nada, assumo a função do bobo (sei lá de que côrte). Do cara que passa ao lado da briga, vê tudo e depois sai por aí contando suas versões, dando entrevistas, falando e cantando seu ponto de vista, dizendo quem começou a luta, analisando motivos, tomando partido... coisas que qualquer bobo que se preze faz.
Pois bem, adoro discutir religião. 
Essa semana eu estava almoçando com um colega de trabalho. A conversa se iniciou, entre minhas garfadas cronometradas (tenho 20 minutos para almoçar),  com a pergunta do William: "Cesinha, vc acredita na bondade das pessoas?"  
Pronto. Foi o bastante pra reduzir meu índice garfadas/minuto e me chamar pra discussão.
A pergunta não era simples, não. Era, na verdade, uma que trazia outras.  Se acredito, de onde vem essa bondade? Se vem de Deus, porque ele não é mais generoso e concede um pouco mais de benevolência aos assassinos, estupradores, aos maridos que batem nas mulheres? (Pra citar apenas alguns dos titulares desse time). Se vem do próprio homem, então qual é a de Deus? Deus existe? Serve pra alguma coisa? Interfere ou apenas figura no (in)consciente como autor das coisas que a ciência ainda não explica? Deus é criador ou criatura? 
Lembrei do diálogo entre Frei Betto e o sociólogo italiano Domenico deMasi. 
Frei Betto acredita que Deus criou o homem num ato de infinito amor. Para de Masi, o homem criou Deus num ato de infinita esperança. Quando li, achei isso de uma beleza poética brilhante. O que cada um disse e, talvez o mais belo disso, o fato de expressarem suas opiniões tão conflitantes em clima de respeito.  Mais: de aceitação.  Talvez ainda mais: de complementaridade.
Voltando ao almoço. Começamos a conversar sobre a reencarnação como meio de aperfeiçoamento espiritual humano. Ele falou um pouco sobre isso. Eu disse a ele que tenho dificuldade de crer nisso e tentei, em 3 minutos, expressar que, na minha visão cristã, esse processo de aperfeiçoamento depende de um fator externo. E esse "fator externo" é a pessoa de Cristo. 
É lógico que eu não vou entrar nessa briga aqui. Eu sou o bobo. Lembra?
Só termino dizendo que acredito que as discussões sobre temas religiosos (o que inclui os arreligiosos) pode ser riquíssima se houver 1) respeito pelas opiniões e experiências do outro; 2) aceitação das diferenças de percepção e 3) complementaridade de aprendizagem (essa é mais difícil de explicar - talvez eu esteja sendo ecumênico ou até sincrético demais). Vou tentar explicar. Quando, como cristão, não me posiciono como quem quer vender sua crença, como um vendedor da Ricardo Eletro (eu não perco venda!), posso aprender com o outro. Talvez eu até ensine algo. Talvez.

Blz, William! Meu tempo acabou.
Falou, valeu!



4 comentários:

Aguiar disse...

Beleza, César;
Essa discussão é realmente rica no contexto geral, se ninguém tomar partido, apenas pela parte que lhe toca - digo do ponto de vista de sua crença.
Creio que o Frei Beto estava certo quando disse - que deus criou o homem num momento de infinita bondade. Pois, o vez sua imagem e semelhança, e, deu-lhe o livre arbitrio, para tocar a vida como lhe convier. Acontece que o homem deixou-se corromper-se. E aqui entra as várias formas de corrupção, que muitas das vezes nós chamamos de "jeitinho brasileiro", podendo ser simplesmente a furada de uma fila, e por aí vai.
Pelo que vejo, esse assunto ainda vai dar muitas discussões e seu almoço vai durar mais que 20 minutos.
Abraços,
Ribamar.

Ju e Júlio disse...

Então...
bondade das pessoas, vinda da própria pessoa... não sei. Estou desacreditada.
Outra coisa pra se questionar: o indíviduo nasce mal ou se torna mal...

Clube do Livro disse...

Eu acredito!!!
Na bondade e também na maldade humana. O ser humano é capaz de ser bom e mau e essa capacidade é fruto do tal livre arbítrio. Deus não nos criou para sermos bonecos em suas mãos, por isso, apesar de ter um plano de amor para cada um de nós, nos deixa livres para escolher qual caminho seguir.
O caminho a seguir é uma escolha, manter essa escolha não é fácil, em face disso acredito que é impossível alguém ser bom todo o tempo, mas cabe a cada um escolher como se portará a maior parte do tempo. É a velha história dos dois lobos interiores, o bom e o mau, será mais forte aquele que nutrirmos com mais freqüência.
Eu acredito!!!
Creio em DEUS e em seu filho AMADO, sem preocupar-me em entender o porquê de minha crença. Creio por que me faz feliz, deixo minha racionalidade para o que ela puder ser mais útil, para o AMOR (a Deus, aos meus pais, familiares, amigos e parceiro) prefiro usar o coração.
Eu creio que fomos criados por DEUS, que é amor, somos capazes de amar e ter gestos de bondade para com nossos próximos, não para suprir suas necessidades, mas por que deve ser uma necessidade de cada um de nós.
CREIO na bondade e na maldade humana e lamento o fato de o livre arbítrio esta sendo usado para o fortalecimento da crueldade!

Cesinha disse...

Amanda disse:
"Creio em DEUS e em seu filho AMADO, sem preocupar-me em entender o porquê de minha crença. Creio por que me faz feliz, deixo minha racionalidade para o que ela puder ser mais útil, para o AMOR (a Deus, aos meus pais, familiares, amigos e parceiro) prefiro usar o coração.
Eu creio que fomos criados por DEUS, que é amor, somos capazes de amar e ter gestos de bondade para com nossos próximos, não para suprir suas necessidades, mas por que deve ser uma necessidade de cada um de nós."

Amanda!! Bonito demais isso que vc escreveu.
Bonito e ao mesmo tempo intrigante.
Como é que se consegue pensar com o coração e sentir com a cabeça?
Que veio primeiro: o pensamento ou o sentimento?
Não interessa a resposta. É bonito.
Obrigado pela bondade!!

Um abraço e estou esperando pelo seu blog!!
Falou valeu!!